quarta-feira, 17 de julho de 2013

... Respirei fundo, dessa vez a coisa era séria. Meus vinte anos pedia mais responsabilidade e competência comigo mesma, ou então eu me mesma não aceitei pouco e de pouco a imensa Capital de São Paulo não tem. Embarquei sozinha, era como se o mundo chamado família e proteção tivesse desgrudado de mim, foi confuso no começo, queria te contar e vou. Era uma hora da manha subi as escadas do ônibus e me posicionei na cadeira vinte e nove, do lado da janela onde meus pensamentos se soltaram em cada quilometro e paisagem que avistava. Ainda durmo muito e sem muita novidade o sono me levou sem perceber que faltava uma hora e meia pra chegar na tão famosa e barulhenta São Paulo.
Desci do ônibus com desconfiança, as cores não era muito chamativa a maioria delas é escura como cinza e preto. Subi várias e várias escadas rolantes, descobri o que é pisar em metrô, aquilo que vinte e quatro horas é vivo sem descanso nenhum. Quanta pessoa havia ali, uma batendo com a outra, correndo como se não houvesse mais o amanhã, confesso que assustei até quando me disseram que aquilo não era nada perto do tão conhecido "horário de pico". Sai da grande cidade subterrânea e andei nas ruas de São Paulo, já era seis e meia. Olhei para o céu a procura do sol, pois ventava chato em volta de mim, não o encontrei e nesse exato momento conclui o quanto aquela cidade em cima e embaixo era tão suja quanto. Não havia nunca imaginado que, aquela bola de fogo tão grande e tão irradiada fosse tão pequena perto daquele céu sujo e poluído pelo progresso de uma cidade.
Na Capital habita-se pessoas desconfiadas, com olhar sério e sem brilho, entrei no ônibus, quanta diferença havia nele e então eu pensei que aquilo não era nada comparado ao que esperava pra mim. Respirei fundo e troquei palavras com o cara que hoje sei, ele não é apenas um homem comum na vida de minha família, passei pela grandiosa praça da Sé, eu arrepiei pois sempre tive a sensação de ter nascido décadas atrás e essa praça tão antiga e misteriosa por ruas que nela contorna, ruas longas com poucas luzes para ilumina-la. De frente a essa velha praça, meus olhos subiram pro infinito alto de São Paulo, Teatro Municipal da Capital, encheu meus olhos de beleza, como era bonito e grandioso aquele lugar, cada detalhe que o compunha faz dele único como aquele lugar.
O ônibus corre rápido, vi de relance grandes avenidas muito conhecida por mim e por você, paredes pichadas dão cor para aquela cidade que, de alguma forma é morta por não ter o verde natural, olhei com rapidez quando o cara disse com a mesma voz de sempre:
- Ali é o Hospital das Clinicas o maior hospital da América Latina.
(...) Foi assim que o respondi, sem palavras e sem nenhuma reação. Aquela cidade não é uma cidade, é um planeta que só é visto assim, por crianças.
O ônibus correu na sua exclusiva faixa por mais algum tempo que não soube identificar, por apreciar e encher minha curiosidade. Já era sete e quarenta, foi quando eu percebi, quanta gente havia num espaço comprido. Descemos, meus pés tocaram no chão da Univerdade da USP de São Paulo, pena que meu pescoço não vai além, era dois quarteirões de estrutura. De frente pra ela, dividido por uma rua ou avenida se localizava o Mundo Drogasil, mais pra frente é a divisa de Osasco, sim eu estava longe do centro de São Paulo.
O Mundo que meu destino me trouxe, sei que os sete meus me aplaudiram ajoelhados, eles viajaram comigo, sei que é assustador pra você e algo sem lógica e entendimento mas, foram eles que viajaram e me colocaram naquela empresa tão infinita. Meus olhos por um segundo e todo meu corpo queria cravar meus pés naquela terra. Eu era desconhecida por ali e só mais uma nos milhões de habitantes e loucos por aquele lugar. Entrei e ai sim, a partir daquele momento era eu, todos haviam feito sua parte, minha família, meus sete e o cara que não é só um cara, faltava a minha a mais importante. Entrei sem medo de errar, sei que haviam muitos me dando a mão e segurando meu corpo, era meu primeiro passo e tive uma grande sensação que havia muito pra andar.
O primeiro lugar que conheci foi o refeitório, sei que você vai concordar comigo mais Ribeirão Preto não tem nem terra pra ter aquela imensidão de mundos e mundos em cima do outro. Por fim vi os raios de sol anunciando um novo dia, um dia não comum, não pra mim. A facilidade de conhecer gente naquele momento falhou, por quinze minutos. Tive aulas e mais aulas e, sem nenhuma pressa conheci a estrutura daquela empresa, devo imaginar que é do tamanho da USP de Ribeirão Preto. Quanto aprendizado, quantos sotaques meus ouvidos sentiram. Um mundo de diversidade, pessoas da Bahia, Minas, Maranhão, Paulistas, Cariocas.
Vivi nesse mundo por dois e maravilhosos dias, confesso que não via a hora de voltar, sentir o cheiro de ar puro, ver o sol acordar as seis, descobri e me permitir novamente escutar o silêncio, extinto por ali. Quatro horas do dia 16-07, fiz o mesmo caminho, porém de dia, o que me facilitou em ver o tão conhecido 'horário de pico", pico de pessoas, carros, falta de tempo. Quanta beleza havia naquele lugar tão escuro e sem vida a noite. Quanta gente lutando por um dia melhor, arrepiei por várias e várias vezes.
Eu me tornei livre agora, me tornei dona de mim. Ainda vou ganhar pouco, um pouco que vai me levar a viajar entre quatro e quatro meses, um pouco que vai me fazer crescer e quem sabe um dia, aquela Capital se torna pequena pra mim, como Ribeirão Preto hoje se tornou.

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