quinta-feira, 24 de março de 2011

Velho eterno

Inacreditável como o fio de laços é tão forte e intenso, inacreditável como a insegurança da perda de alguém do nosso próprio sangue possa ser tão doido como o estouro de miolos e mesmo assim continuar respirando.
(...)
Já se passaram anos e anos, e aquele personagem forte, ruidoso, pão duro, humilde e brincalhão vive nos meus traços tão forte e ardido que, sinto uma dor repugnante, uma dor destruidora de esperanças. Já se passaram tantas vidas, tantos momentos, e ele estava ali, do meu lado, aquecendo meu seio inocente quando eu tinha só alguns centímetros. Como era forte nossa ligação só eu e ele, as promessas de um cavalo branco enchiam meus olhos de esperanças, as lascas faixas vermelha que queimava sobre minha coxa quando a força bruta se passava por mim por   uma mangueira, só porque eu queria a piscina um pouco mais cheia. Hoje, sei como é maravilhoso relembrar a dor, e rir de como era pão duro aquele velho e eu como era peste por achar que poderia ser mais esperta do que aquele homem de carga tão pesada de experiências. Naquele dia ensolarado, levantava meus olhos para céu queimando aquelas bolas pretas que invadia o sol forte, tentando descobrir como aquele homem montava meu balanço de corda e tabua em um galho velho daquela arvore sedentária, como aqueles nós poderiam ser enrolados com tanta facilidade e rapidez, e depois disso, era só alegria, aquela velha criança prendia seus dedos sobre mim e me deixava voar sem medo, tendo o tal desejo de me expor naquele vento puro cheirando a infância. Naquele tempo em que o velho homem corria em terra roxa e seca, a procura de filhotes de galinha, aqueles pintinhos que tinha tanta vontade de cuidar e saciar meu desejo de acariciar, sem precisar tomar umas bicadas da mãe tão protetora, e lá mais uma vez ele estava, deixando aquela careca exposta ao sol revelando a força e a felicidade ao me ver feliz com os pintinhos no colo. Era tão verdadeiro, tão eterno, tão perdoável qualquer tapa na bunda, era uma ligação divina. E hoje, ele não para, não para de me trazer felicidade, hoje ele mais do que ninguém cuida do meu futuro, planeja como se fosse veterano de qualquer tombo meu. Mas uma vez ele me solta em um caminho de objetivo e muito estudo, invade meu peito criando uma chance de ser alguém melhor. E hoje, após tantos momentos, após dezoito anos de verdadeira brincadeira, ele de algum modo está dando adeus, um adeus eterno de sua pele enrugada, dando adeus aquele olhar cansado de dia após dia, eterno adeus de dor, caminhada difícil que a vida o fez passar, hoje ele de algum modo me despede. Mas eu sei, eu sei que aquele sorriso de persistência de felicidade é eterna chama no meu peito, eterna força que me consome, ele é um eterno livro de historias, vitorias e derrotas, e por isso meu avô, eu te carregarei no meu peito como me carregou no seu um dia, não carnalmente, mais interiormente te aquecendo e relembrando de todas nossas promessas entre neta e avô. E você será eternamente, o meu mestre! Obrigada meu eterno velho.

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